Hoje, resolvi fazer algo diferente. Posto aqui não um texto meu, mas um de autoria de meu irmão, que, nos momentos de ócio criativo, também é chegado às letras =D
Eram melhores amigos, daquele tipo que parecem irmãos. Faziam tudo juntos, tinham os mesmos gostos (inclusive para mulheres) e os mesmos sonhos. Amigos de infância, vizinhos de porta, estudavam na mesma turma e, até mesmo na escolinha de futebol, jogavam sempre no mesmo time. Revezavam a braçadeira de capitão e nem mesmo isso era motivo para brigas ou inveja. A relação de amizade era tão forte, eram tão ligados que bastava um cair doente para o outro adoecer, pouco tempo depois.
Durante o tempo colegial, namoraram duas irmãs, gêmeas idênticas. Dividiam até os momentos mais românticos. Tudo ia muito bem, o tempo ia passando e a amizade crescendo cada vez mais. Então, veio a época da faculdade, a escolha do curso superior, os anseios da vida adulta. Com isso, surgiu a primeira diferença: enquanto Jonas queria Engenharia, Vicente flertava com o Direito. Foram dias angustiantes, questionamentos de ambas as partes, até que Jonas resolveu então cursar Direito, somente para agradar ao amigo e continuar a amizade.
Permaneceram colegas de turma e, enquanto Vicente era tido como excelente aluno, totalmente adaptado ao curso, Jonas se via cada vez mais triste, insatisfeito com a escolha e sem entusiasmo para os estudos. Sempre era aprovado nas disciplinas porque Vicente o "ajudava" nas provas. Vicente se via obrigado a isso, pois Jonas estava ali apenas para mantê-los unidos.
Quando Vicente resolveu fazer um estágio fora do país, tudo pareceu prestes a ruir. Jonas se viu pela primeira vez longe do amigo. Foi nesse período, sozinho, sem o amigo querido por perto, que ele conheceu Amanda, uma caloura do curso. Era uma jovem linda, a mais bela mulher que ele já tinha visto. Foi paixão imediata e rapidamente correspondida. Iniciaram um namoro e seu empenho na atividade acadêmica e suas notas deram uma guinada incrível.
Passaram-se meses e, enfim, era chegado o dia do retorno de Vicente. Os amigos estavam ansiosos pela retomada da amizade. Jonas foi buscá-lo no aeroporto, levando consigo sua amada (e estava nervosíssimo, ansioso pela aprovação do amigo). Para piorar a ansiedade, o voo estava atrasado em uma hora e meia, devido às más condições climáticas. Por ironia do destino, Jonas foi ao banheiro no exato momento em que Vicente cruzou a sala de desembarque e deu de cara com Amanda. Encantou-se com aquela desconhecida, praticamente paixão à primeira vista (realmente tinham o mesmo gosto para mulheres). Pensou em flertar, mas, por timidez e por estar procurando o amigo, resolveu desistir. Foi quando Jonas apareceu, deu um beijo na sua amada, cumprimentou efusivamente Vicente e partiu para as apresentações. Amanda, este é Vicente, meu grande amigo, meu melhor amigo, meu irmão. Vicente, esta é Amanda, a mulher mais linda que conheço, a mulher da minha vida, a única dona do meu coração. E Vicente a cumprimentou, num misto de tristeza e constrangimento. Estava tão sem graça que transpareceu o sentimento, a ponto de Jonas achar que o amigo a tinha reprovado.
Seguiram para casa e os minutos dentro do carro foram terríveis. Jonas puxava conversa e Vicente, monossilábico, parecia em outro planeta. Alguns dias se passaram e Jonas, cada vez mais triste, tinha certeza da reprovação do amigo e, talvez por isso, a amizade estava enfraquecida. Resolveu, então, chamar o amigo para uma conversa franca. Perguntou o porque da reprovação de Amanda e disse que se fosse preciso dava por acabado o relacionamento. Vicente o tranquilizou, teceu inúmeros elogios a ela, disse que seria impossível ele encontrar uma mulher melhor. Mas Jonas insistiu, pediu sinceridade, não conseguia entender o que estava acontecendo. Foi quando Vicente confessou. Disse estar perdidamente apaixonado pela mulher do seu melhor amigo e não via outra alternativa senão o distanciamento. Já não era mais digno daquela amizade.
Jonas mais uma vez se via em dúvida. Seguiria o namoro e acabaria com uma amizade tão bonita? Ou romperia com a mulher da sua vida para não afetar a relação entre os dois? Pensou, analisou, ponderou. Durante dias, só fazia isso. Amanda já não entendia o porquê do distanciamento. Então, ele tomou um decisão. Chamou o amigo e a namorada, explicou o ocorrido e deu sua sentença. Rompeu com Amanda, disse que agora ela era livre para iniciar um relacionamento com Vicente, um homem melhor que ele e que poderia fazê-la muito mais feliz. Vicente relutou, reclamou, disse que jamais aceitaria aquela situação e voltou a se sentir indigno de tamanha amizade. Não achava justo, mais uma vez, Jonas se sacrificar por ele. E resolveu se distanciar. Amanda passou a odiar Jonas por tal ato e ele então caiu em profundo desânimo. Tinha perdido de uma só vez o melhor amigo e o seu grande amor.
Meses se passaram, quando Jonas então soube do namoro entre Amanda e Vicente. Era também chegada a festa de formatura. Vicente foi orador da turma, fez um pronunciamento belíssimo, todos foram às lágrimas de tanta emoção. Colaram grau, tiveram um baile de gala e Amanda estava lá, sempre ao lado do novo amado, belíssima, estonteante. Todos invejavam Vicente, todos menos Jonas. Coube a Jonas o prêmio de consolação. Enamorou-se por Fabrícia, colega de turma, bonita, mas não tanto, e rejeitada pelos dois amigos durante os anos de faculdade.
Após 3 anos, Vicente casou-se com Amanda. Jonas foi apenas um convidado comum, sequer foi um dos padrinhos do noivo. Os dois amigos passaram de quase irmãos para meros colegas de classe. Vicente era reconhecido como um advogado de muito prestígio, enquanto Jonas não exercia a profissão. Casou-se com Fabrícia, um casamento mais por comodidade que realmente por amor ou qualquer outro sentimento.
Depois de algum tempo de casado, eis que, certo dia, Jonas, ao chegar de surpresa de uma viagem e adentrar em seu quarto, assusta-se e cai no chão. Ficou tão horrorizado com a cena, que seu coração não aguentou. Ali, literalmente, morrera de espanto. Em seu quarto, em sua cama, estavam sua mulher, Fabrícia, e seu amigo dos velhos tempos, Vicente. Os corpos nus, entrelaçados, os rostos corados e molhados de suor, após momentos tórridos de sexo.
Texto de Hélio Palácio de Andrade
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