"Bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do primeiro dia do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça". (Mario Quintana)
As palavras acima, de Mario Quintana (um dos meus poetas preferidos), expressam, com genial simplicidade, o sentimento que predomina nessa época. Cada novo ano é como uma pausa, fechando um ciclo e dando início a um próximo. Esse costuma ser também o momento em que fazemos balanços do que passou e traçamos novos planos para o porvir.
Com esses balanços e metas, geralmente nos apercebemos de que a conta do ano que se encerra não fecha, que aquilo que foi planejado deixou, em muito, de ser realizado. Vemos que os planos para o novo ano que vai chegar são muito iguais aos do ano que termina. E dos últimos anos anteriores também.
Não viajamos o mundo como gostaríamos. Não frequentamos a academia com a disciplina que deveríamos. Não seguimos as dietas tão à risca. Não perdemos aqueles quilinhos extras que insistem em se alojar nos locais mais indesejados. Não terminamos os cursos que planejamos (pior, às vezes nem iniciamos). Não nos tornamos mais organizados. Não lemos todos os livros que prometemos. Não vimos todos os filmes que previmos. Não tiramos mais tempo livre para a família ou para nós mesmos.
Essa lista poderia continuar infinitamente, mas ela é somente exemplificativa. E universal também, como aqueles controles que servem em qualquer TV. Porque muito do que está acima se aplica a mim, a você e a tantos outros. Porque temos a mania de traçar metas que, consciente ou inconscientemente, sabemos que não iremos cumprir. Não importa, continuamos a fazer planos. Damos nova roupagem aos desejos dos anos anteriores e os transferimos para os seguintes. Porque no ano que vem será diferente. Afinal, é um novo ciclo!
A folhinha do calendário que será arrancada hoje nos sinaliza que teremos mais 365 (ou 366) dias para fazer tudo diferente. O sentimento é de renovação. O champanhe ou os fogos estourados mais tarde simbolizam nossa esperança de transformação. Transformação para o mundo e para nós mesmos. Nessa ânsia por mudanças, muitas vezes extrapolamos, traçamos metas irreais, que acabam gerando frustrações.
Planejar é importante e necessário. Mas o planejamento deve ser realista e flexível, ou vamos continuar maquiando os desejos dos últimos anos e transferindo-os para os vindouros. Não posso, como formiguinha assumida que sou, prometer cortar os doces da minha vida em 2015. Porque sei que irei me sabotar facilmente. Uma meta a menos a ser cumprida. Que pode puxar todas as outras (quantas?) pelo ralo.
Esse planejamento é uma etapa do processo último de desenvolvimento pessoal que todos buscamos. Como etapa, não pode ser maior que o todo, que o processo em si. Tracemos metas, mas metas pessoais e exequíveis.
Escrevo este texto tomada pelo mesmo sentimento de renovação que citei acima. Ele acabou fugindo do padrão das outras histórias, talvez tenha ficado mais denso que deveria. Tudo bem, é meio que uma reflexão de fim de ano, então está valendo. Como disse o Quintana, é o truque do calendário, é vida que recomeça. Vou correr para colocar o champanhe na geladeira e traçar minhas metas (reais) para 2015!
Feliz Ano Novo!!