quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A vida não é um filme (mas bem que poderia ser)


Dias atrás assisti ao filme "Loucas pra casar". Sem spoilers, que isso é bem chato, e sem entrar no mérito se é bom ou ruim (não sou nenhuma crítica de cinema, apesar de adorar filmes), inicio este texto com ele, apesar de não ser o filme, propriamente, seu foco. Posso dizer que a película me surpreendeu, além de me fazer rir e, mais que tudo isso, me levou a refletir.

A fantasia é muito explorada no filme. Tanto que, às vezes, parece faltar um elemento de coesão para a trama. Bom, pelo menos para as mentes mais lógicas e lineares. A minha, que é mais flutuante que linear, embarcou nessa fantasia e saiu de lá baratinada. Há dias venho pensando e querendo escrever a respeito. A mensagem que fica para mim do filme é: sem fantasia, tudo o que sobra é a realidade.

E o que é a realidade, senão algo que temos de enfrentar diariamente, esteja o nosso humor bom ou não, tenhamos dormido o suficiente ou não, estejamos dispostos ou não? Lá está ela, feroz e impiedosa à nossa espreita. Muitas vezes ela é dura, impassível, sofrida até. Com isso, muitos tentam fugir, negá-la. Mecanismos para isso não faltam, e nem vou levar a conversa para o "psicologês". Aí entra a fantasia, que, para mim, desde que bem dosada (como tudo na vida), é super saudável. Faria aqui minha paráfrase à mensagem do filme: sem um mínimo de fantasia, não há vida saudável.

Não, não sou uma criatura alienada, não converso com pedras ou duendes, mas não deixo de por um pouco de fantasia em minha vida diária. Até porque sou mãe, e não acredito muito em mães que não sejam um pouquinho fantasiosas. Tem coisa mais gostosa que pegar carona na imaginação das crianças? Dar corda a um tanto de "por quês" e "e ses" que saem da mente de um garotinho de quatro anos? (Tudo bem, confesso que às vezes respondo às infinitas perguntas inicialmente contrariada, por causa justamente dela, a dose de realidade que nos impede de embarcar na fantasia. Felizmente, isso é logo superado)

É maravilhoso ver, de repente, a casa transformada em uma terra fantástica, habitada por coisas falantes, como carros e árvores:

- Mamãe, árvores não falam! (Como assim, chamada à realidade por uma criança?)

- Falam, sim, meu amor, desde que a gente queira.

- Ah, tá!

E a brincadeira recomeça, com a realidade em suspenso, deixada em seu devido lugar por ora. Fantasia e realidade se alternam na rítmica dança da vida. Tenha você quatro, quarenta ou oitenta anos, essa cadência entre fantasia e realidade deve, certamente, fazer parte de sua vida. Porque a vida sem fantasia seria, no mínimo, chata.

Mas eu sou muito "pé no chão", alguém pode dizer. Tudo bem, isso não elimina a fantasia de sua vida. Quer ver? Quantas vezes você já sonhou (dormindo ou acordado) que voava e isso era libertador? Quantas vezes ao dia sua mente vagueia enquanto você, por exemplo, toma um café ou coloca uma pilha de roupas na máquina de lavar? Quantas vezes você já se viu, no meio de um dia de trabalho, planejando as próximas férias, imaginando mil coisas a conhecer e a fazer? Quantas vezes você já assistiu a um filme e se viu no meio daquela história? Ou melhor, será que alguma vez você já não imaginou que a sua própria vida seria um filme, com uma trilha sonora bacana e enredo construído diariamente?

Espero que tenha respondido sim à maioria das perguntas. E que lembre de muitas outras situações fantasiosas (e deliciosas) já vividas. A fantasia é tão importante quanto a realidade. Pensamos no ato de sonhar como algo positivo (e um dos poucos que ainda é gratuito). E o que é o sonho, senão fantasia? Diria que a fantasia é um novo olhar sobre a realidade. Elas se complementam, não precisam se excluir.

Enquanto escrevo, lembro das fantasias que estão presentes na nossa cultura, no nosso imaginário coletivo. Coelho da Páscoa, Papai Noel, Super Heróis. Nossos filhos convivem com elas e nós as alimentamos. Eu, pelo menos, as alimento. Porque é revigorante ver os olhinhos brilharem, ver as teorias fantasiosas sendo construídas e testadas. Um dia, elas serão naturalmente refutadas. Porque nossas crianças irão crescer. Já não vão mais acreditar nessas fantasias. Mas não deixarão de sonhar, isso espero.

Tento finalizar o texto e uma música começa a tocar em minha mente. Uma música da trilha sonora da minha vida. Escolhida a dedo para compor o filme da minha existência. Se será sucesso de crítica e de público, quem pode saber? Isso não importa tanto. Mais importante é continuar escrevendo o roteiro desse filme. Com os pés bem firmes no chão e a cabeça viajando, levinha, nas nuvens.


6 comentários:

  1. Olá Hélia

    Fantasia e Realidade devem estar em equilibrio em nossas vidas, pois o excesso de um ou de outro prejudica. Eu amo leite condensado, mas se como demais fico enjoada e perde a graça. Antes eu vivia no mundo da fantasia (tão bom), depois fiquei como vc mesma disse "pé no chão" bem ao extremo... hoje procuro o equilíbrio para não perder a magia.

    Aguardo você no meu blog... até mais!

    http://inspiracaolivre.blogspot.com.br

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  2. Sim, tudo na vida deve ser bem dosado. Excessos, de qualquer tipo, costumam fazer um mal danado. Também procuro esse equilíbrio, assim como você. Vou lá conhecer seu cantinho, sim. Abraços, e obrigada pela visita :)

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  3. Nossa amei o seu texto Helia!

    Ótima reflexão! PS: Eu também sai do cinema meio baratinada!rs

    Bjinho
    Carol
    http://www.falandotudoeumpoucomais.com/

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  4. Que bom que gostou, Carol! Obrigada pela visita. Bjo.

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  5. Helia gostei demais do seu texto.
    Eu fui divagando aqui e ali, entre uma história e outra, observando que a fantasia só existe porque a realidade, as vezes, é dura demais... rs
    Acho que viajei um pouco, né?! rs...
    Mas o que seria de nós se não fantasiássemos um pouco, não é?!

    Beijos

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  6. Oi Suzana, fico feliz com a visita e que tenha gostado :)
    Penso que a fantasia é tão importante quanto a realidade, ambas fazem parte da vida. Aliás, a vida sem um pouco de fantasia não teria muita graça, né?
    Bjs.

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